quarta-feira, abril 8

Aos vinte e seis...

Há vinte e seis anos eu nasci. Num dia dezoito, de um janeiro qualquer, de um ano de oitenta e três. E pouco a pouco fui sentindo a delícia de viver. Mas, só com a chegada dos hilários vinte e seis anos foi que percebi a beleza pré-balzaquiana da vida.

Aos vinte e seis anos você começa a entender que beber uma simples cerveja gelada e testemunhar a beleza do sol nascer continua a ser uma delícia, mas está longe de ser sinônimo de liberdade. Você entende que ser livre é ter a capacidade de transformar-se e percebe que ainda não é tão livre assim... Mas, que em algum momento já sentiu o sabor peculiar da liberdade, da independência e da ousadia.

Aos vinte e seis, você entende que o prazer da vida está na apreciação... Na degustação de um bom vinho tinto com uva camenere ou pinot noir. No aroma peculiar de um perfum cabotine. Ou na apreciação de uma canção de Maria Bethânia, Chimaruts e Timbalada.

Aos vinte e seis anos você começa perceber que está entendendo demais de assuntos que apenas seus pais tinham conhecimento, e que por incrível que pareça tudo é tão interessante e natural. Você percebe que entender de vinhos, de livros, de bossa nova não é algo tão ruim assim.

Aos vinte e seis anos você percebe que pode ser uma pessoa refinada, desde que seu salário permita. É aos vinte seis anos que você começa a impulsionar a sua vida profissional. Mesmo fazendo uma besteirinha aqui, outra ali, você está convicta de que aos trinta e uns será uma profissional reconhecida e competente.

Aos vinte e seis, a sessão de cinema parece ter um significado além de risos e lágrimas. Os filmes começam a ser seus professores, principalmente quando você compara com o livro de Nietzsche ou Foucault que estão em sua cabeceira. Aos vinte seis você se torna mais critica, audaz e destemida, entretanto, ainda não tem aquela sonhada segurança dos trinta.

É aos vinte e seis anos que você entende que a paciência é a mãe da ansiedade, e que não adianta lutar contra o tempo, porque as situações simplesmente acontecem, os problemas se resolvem de uma maneira tão sutil que você termina por não perceber o tempo percorrido entre o sim e o não, pois, você abriga dentro de si a força de lutar por todos os seus ideais, de uma maneira mais sensata e eficaz.

Aos vinte e seis anos você ainda apresenta mais dúvidas do que certezas, entende que ser independente não é ser onipotente, entende que pedir ajuda não é um traço de fraqueza na sua personalidade, e sim apenas uma maneira de viver em sociedade.

Aos vinte e seis anos você já sabe que para mudar o mundo, precisa inicialmente ter a empreitada mais justa de tentar mudar a si mesmo.

É com a chegada dos vinte e seis anos que você entende que intimidade pode estar relacionada com amor, e que as ilusões surgem apenas para apimentar suas emoções. Você não se preocupa se o passado morreu, você até lamenta algumas historias não resolvidas, e tem a esperança sutil de que aos 30 anos a vida seja menos intransigente e muito mais atrapalhada

Aos vinte e seis anos você começa a se questionar se já amou alguém na vida... e percebe que tem um medo enorme de casar, mas sabe que o amor deve estar sempre ali, á espera de um plano futuro, para os trinta talvez.

Aos vinte e seis anos, você já não é a aquela menina ingênua, você já entende que a sensualidade é tão bela como a arte, entende que a arte da conquista é uma brincadeira saudável, e você sabe muito bem como usar seu charme, seus olhares e suas expressões corporais para se tornar irresistivelmente desejada.

Aos vinte e seis anos, você não mais confunde um corpo malhado com qualidades da personalidade, você entende que se relacionar com homens seguros é muito mais desafiador e irresistível. Você ratifica que a inteligência é fundamental, e pode até ser usada para ousar um pouco mais em relacionamentos futuros.

Aos vinte e seis anos, você simplesmente adora jogar conversa fora com os amigos, adora quando fala sobre assuntos que estimulem a sua capacidade de raciocínio e de questionamentos acerca da vida, de política, de medicina, de sexo, de sociedade.

Aos vinte e seis anos, você conhece mais de perto as conseqüências. E por essa razão simples, você entende que o futuro não é o melhor lugar para se depositar seus melhores dias. Nem os seus melhores sonhos...