terça-feira, novembro 17

Meus devaneios... Quem precisa de saúde?

O Brasil, nosso imenso e obscuro país, passa por um novo processo de modificações. Pasmem! Quando me refiro a modificações, não estou fazendo alusão a melhorias ou a honrosas homenagens, me refiro a distorções de valores básicos, e familiares.

Tenho me preocupado bastante com o rumo que a nossa saúde está tomando, as pessoas estão comercializando o único bem que é impossível de se comprar ou vender... A vida! Vejo, a cada dia, os hospitais cheios de doentes, tanto doentes físicos, rotulados como pacientes, quanto doentes camuflados, ou médicos, como queiram chamar. O que mais me entristece é saber que o doente amanha pode ser eu ou você!

Adentrei na medicina ainda jovem e com grandes ideais e concordo que a maturidade é um elemento fundamental para ser um profissional médico, no entanto há algo a mais, um quê necessário para fazer pulsar a vida, o compromisso e o amor para com a humanidade. Não estou querendo igualar a personalidade médica a uma divindade, hoje, vivendo na realidade de uma profissão desgastante, vejo quão difícil é sorrir quando se tem uma noite de estudos pela frente ou quando se está preocupado com um diagnostico raro e difícil de elucidar.

No entanto... Sempre me questiono, aonde foi parar o amor pela medicina, ao menos este, o amor pela ciência, pelo conhecimento deveria ser enaltecido nos dias corriqueiros da saúde pública. Percebo que os acadêmicos de medicina adentram na universidade com aquele ar de vaidade imposto pela sociedade, aquele tão sonhado status. Será que o reconhecimento de um órgão público como o MEC me credencia a tratar de seres humanos? E abdicar de alguns momentos em prol de outro que a mim é alheio?

O que me entristece é perceber que muitos profissionais apenas apresentam uma paixão pela medicina, e, infelizmente, até a ciência já descobriu que a paixão é efêmera, é impulsionante, dependendo do grau de interesse é doentia, mas é efêmera... E como poderemos passar uma vida inteira abdicando de certos prazeres se apenas apaixonados estamos?

Qual seria o segredo para transformar paixão em amor? O que me credencia no aprendizado de amar? Qual a dificuldade de enxergar no paciente um ser, repleto de sonhos, convicções, anseios, ideais? O que é ser humano?

Por que temer cultivar o autoconhecimento antes de divagar sobre os problemas e as soluções dos pacientes?Medo? Dúvida? Imaturidade? Ganância?

E por que falar? Responder a tudo? Calar? Ou simplesmente pensar...

terça-feira, outubro 13

DO que eu preciso?

Preciso de um dia de sol,
Para contemplar a beleza fugaz dos seus raios
Preciso de um dia de chuva,
Para me aquecer nas chamas da vida
Preciso de um dia de sorrisos,
Para distribuir a alegria,
Preciso de um minuto de lágrimas,
Para lembrar a exatidão do Adeus

Preciso de um olhar
Para sentir a valorização do amor
Preciso de um toque
Para sentir a leveza da musica
Preciso de um encontro
Para sorver a beleza de mágicos instantes
Preciso de um abraço
Para sentir o pulsar de um coração
Preciso do silêncio
Para viajar entre palavras e sussurros

Preciso da simplicidade da vida
Para sentir...
Apenas sentir o que é ser feliz.

terça-feira, setembro 8

P-Ode à loucura

Sabe aquelas noites maravilhosas do clube de vinho? Nossa ultima resultou no ''P-Ode à loucura''... cada dia me aprimorando mais na arte de desgustar bons devaneios e vinhos... Beijos saudades de todos! POde conferir.

P-Ode à loucura

A loucura é uma forma de felicidade?
Ou a felicidade é uma loucura?

Chega de algemas, chega de medo,
É hora de arriscar,
Hoje é o dia de mergulhar nessa aventura que é Viver
Ouvi gritos, sorrisos, era o mundo?
Não... apenas o Amor

Amo muito, amo a vida, a medicina,
Amo a loucura, a arte, amo...
E sabiamente amo o amor...

MAs o que é o amor?
Ah! A definiçao guardo para outra canção!
Ou a resposta será a simples existência da canção

No final de tudo ...
A gente sempre entende com a cinestesia
Para que forçar tanto a memória?
Deixe-me alienar com minhas convicções vis

Aceita um gole de Pinot Noir?

sexta-feira, agosto 7

Uma doce lembrança

E foi tudo assim...
Começando de mansinho, como quem pouco quer
Olhares foram trocados, segredos desvendados
Momentos de intimidade que geravam
Pouco menos que a intimidade de um momento
Daquele momento...

Especial não por ser simples, não por ser complexo, não por ter rótulos
Especial por ter sido... Por ter acontecido
Por ter me demonstrado você, por me fazer entrar em teu mundo
E que mundo...

Confesso...
Nunca mais fui a mesma
Adentrei o teu mundo, e percebi que o mundo não era apenas teu
Percebi que na real, o mundo pouco tinha de ti
Mergulhei em acordes, debrucei-me pelos ventos da poesia
Olhei nos olhos da filosofia, dormir nos braços da sensibilidade
Analisei vinhos, sorvi uvas, desejos, arrepios, sussurros
Sorvi vida...
Deixei a vida transparecer em mim, deixei meu sorriso mais leve
Deixei que vida me presenteasse com a sutil e desolada saudade

Percebi que a saudade não é ruim
Entendi que a saudade é irmã da alegria
Que saudosa é aquela feliz pessoa que viveu momentos inesquecíveis,
Momentos de aprendizado, momentos de momentos, momentos azuis,
E porque não vermelho, cor-de-rosa, lilás ou cinza...

No mundo que pouco tinha de ti, me encantei pela beleza
Não uma beleza estética, efêmera e fútil
Encantei-me pela beleza sutil das adversidades, dos questionamentos,
Do autoconhecimento.

Hoje...
Aqui sentada na janela de vida,
Observo que a lua continua a brilhar,
Olho para trás, percebo erros, entendo acertos
Aprecio dúvidas...

E o mundo outrora teu, me oferece oportunidades...
Um pouco duvidosas admito,
Queria ter a certeza,
Mas... Sou contemplada com a dúvida
Sigo meu caminho, olho devagar, e vou me despedindo
De mansinho talvez, vou seguindo em frente,
Com uma vontade de ficar,
Mesmo sorrindo não posso fazer o tempo parar,

Saudosamente...
Reconheço que me encantei por teu mundo
Recordo com carinho um instante em meio a loucos devaneios
Que timidamente desejei num dia, assim como hoje, oferecer...
Pitadas de sentimento, carinho e agradecimento em forma de versos
A você.

quinta-feira, julho 23

Um desejo, apenas

E se eu decidisse ir embora, caminhando na estrada da vida
lado a lado com a minha cúmplice?
E se eu entendesse que te deixar é sinônimo de me encontrar
E simplesmente almejasse te perder?

Sinto-me cansada, diante de tantos desencontros
Encontros e desencontros,
Sonhos e ilusões,
Verdades e mentiras,
E na realidade quem mente mais?


Será que toda ilusão é uma mentira?
Nem toda verdade é uma certeza
Quiçá toda discrição estivesse impune
Nem tudo que é correto nos faz feliz
As dúvidas não nos torna mais homem ou menos mulher
Apenas nos torna indefesos, escravos de nós mesmos

Já fui...
Não quero testemunhar a destruição dos teus castelos
Tampouco sorver a tua dor
Quero rememorar a tua alegria de viver
Quero reviver momentos de prazer
Ou apenas momentos
Quero continuar, quero seguir, quero...
Lá bem no fundo apenas quero...

Sorrir

segunda-feira, julho 6

Se fores te perder ...

Se fores te perder, vai de mansinho,
Vai neste imenso e obscuro impasse da vida
Vai sem pressa, vai como as crianças, vai com alma

Se fores te perder, vai como se tudo valesse à pena
Vai como se tudo fosse importante
Como se a alma fosse um corpo,
E como se um corpo fosse à alma

Se fores te perder, vai com os olhos cheios de esperança
Vai com o coração cheio de bondade,
Apenas vai...

Se fores te perder, não tema a tua escolha
Vai com a certeza que há entre o acerto e o erro
Vai sem medo, vai com determinação,
E é quando fores te perder,
Que finalmente hás de encontrar o que tanto procuravas
VOCÊ!

terça-feira, junho 30

Mais uma ousadia de viver... Auto retrato


Estava eu viajando em meus pensamentos, férteis como sempre, e comecei a analisar a vida, percebi cada pedacinho de inconseqüência, analisei cada sorriso, relembrei cada lágrima, recordei cada sonho... E os sonhos... Ah! Aqueles de infância, singelos, puros, deliciosamente ingênuos. E me remetendo saudosamente àquele quê de ingenuidade, fui percebendo como a minha vida é dinâmica, percebi como eu sou uma pessoa mutável, sincera e fiel a mim, até quando tenho aquele peculiar dom de confundir quase todos os meus sentimentos.

Hoje, percebo que estou mais ou menos no lugar onde me imaginei quando criança, sonhos profissionais, alguns resolvidos, outros encaminhados... Sonhos românticos, tão sonhados na adolescência, como eu esperei encontrar o meu grande amor... e encontrei, não diria o único grande amor da minha vida, mas diria que encontrei um, e vivenciei momentos excepcionais... Sabe aqueles momentos que marcam a alma? Que você tem a ousadia de querer parar o tempo, e até a sua própria evolução para não perder aquela dádiva de sentir aquele certo olhar, a ingenuidade de amar? ... Mas... O tempo não pára, felizmente. E o meu primeiro grande amor, foi algo delicioso de ser vivido, e também tão efêmero...

E como as primeiras notas de uma bela canção, o amor se foi, e chegou aquele momento, não menos delicioso, de desilusão... Aquele momento em que você quer parar o mundo para dizer a todos que você está sofrendo. E sabe o que acontece? Nada. O mundo simplesmente não pára, as pessoas nem julgam a sua dor... Simplesmente porque aquela dor é o alimento necessário para lapidar a sua personalidade. É naquele momento de tristeza que você consegue se conhecer, e o curioso, é que é uma das viagens mais apaixonantes que se pode fazer em qualquer existência. Não que eu cultue a tristeza, sou fã da alegria, mas... O aprendizado que a tristeza traz, tem lá seus encantos...

E como um passe de mágica, você percebe que a vida, fica gradativamente mais bonita, você começa a perceber a beleza que estava alheia a momentos que outrora eram cinza... E hoje, sabe-se lá porque, estão estranhamente coloridos. Você começa a perceber as pessoas que estavam sempre ali a sua volta. Percebe velhos amigos...

Ah, os amigos, existe dádiva melhor na vida do que ter amigos... O engraçado na amizade é que você sente que o amigo é um pedaço seu. Lembro das minhas grandes amizades... Como é gostoso ver a alegria estampada no olhar de um amigo, como é delicioso perceber que o seu amigo é uma pessoa tão excepcional e tão humana, que chega até a te decepcionar algumas vezes... E isso machuca, dói, às vezes bem mais do que qualquer dor de um grande amor... Mas, como a vida é tão dinâmica... Você sempre encontra a oportunidade para consertar velhos erros. E gradativamente você vai ficando menos intransigente, você apreende que pessoas erram... E o mais drástico, você entende que também erra... E, assim, velhas amizades são refeitas. São reatadas com antigas letras, mas com novos acordes da canção da vida. E assim, surgem novas emoções ao som de letras antigas... É nesses momentos que a gente entende como vale a pena viver...

E tal qual é a vida... A maturidade vai lhe ensinando a questionar... Vai lhe ensinando a impor regras a sua vida... Você começa a querer sorver todas as informações que o mundo dispõe, devora conhecimentos, idéias, ciência... Se sente fortalecido, principalmente quando toda essa busca é utilizada como uma maneira de ajudar alguém, ou de auto-ajuda.

E o jocoso nessa aventura de viver, é que você termina por perceber que não é tão diferente dos outros, você percebe que alguém já teve a sua idéia outrora, percebe que suas palavras já foram ditas ou escritas, e que aparentemente você é tão comum como os outros, mas... Também percebe que a sua forma de ser, de falar, de questionar, de brigar, pode até ser semelhante, mas é única... Você percebe que pode expor o mesmo pensamento, mas com olhares diferentes, e termina acreditando que você está no lugar certo, com as pessoas certas, e aprendendo com toda a grandeza e toda a alegria contida na força de viver em paz e alegre como sempre. E como quem não quer nada... Você agradece a vida essa grande oportunidade, e se joga em busca de novas experiências, de novos erros e de novas conquistas.

quinta-feira, junho 25

Em busca dessa tal liberdade

É um tanto clichê assumir que liberdade é a capacidade de ser livre, de voar, e de defender seus pontos de vista, diria que certas definições de liberdade chegam a soar como piegas. Dizem ao vento que nós somos quem escolhemos ser, temos liberdade de escolha, será que de fato teremos essa tão sonhada liberdade?

Liberdade de escolher que a miséria é a mãe do mundo? Liberdade de escolher que os hospitais estarão sempre sucateados? Liberdade de escolher que as escolas não mais terão recursos a merenda? Liberdade de escolher a vida...

Fico pasma com essa tal liberdade, uma liberdade que nos prende que nos incapacita até de raciocinar conforme os nossos preceitos e conceitos, pois, até no mundo acadêmico não temos a liberdade de questionar o que aprendemos, pois, não nos é ensinado a pensar, a questionar, somos sempre expostos a ideais prontos.

Nietzsche, Foucault, Durkein, Platão, Lacan, eles sim tiveram liberdade, liberdade de pensar, foram ousados, e seguiram adiante no mundo fascinante das idéias.

É jocoso supor que a liberdade freudiana estava diretamente atrelada à sexualidade, e como poderíamos ser livres se estávamos sendo comandados por um desejo, seja ele no âmbito de ID, EGO, ou SUPERGO?Poderíamos, então, recorrer à liberdade Nietzscheana, aquela em que encontramos a felicidade dentro de nós mesmo, buscando uma liberdade incondicional. Como ser livres se olvidamos de conhecer-nos? A liberdade pregada por Nietzsche poderia ser observada nos dias atuais? Será que de fato teríamos um arcabouço emocional que nos permitisse ser, de veras, livres?

Infelizmente, a cada passo que damos em direção a liberdade nos escravizamos mais, buscamos tanto saciar nossa sede de liberdade que permanecemos escravos do nosso desejo de ser livre, paradoxal, não?

Então, poderíamos inferir que a liberdade é utópica, portanto, inexiste na cultura ocidental? Como ser livres se estamos presos a nós mesmos?

O estado dúbio exacerba quando percebemos que somos manipulados constantemente por fatores adjacentes a nós, a mídia, formadora de opinião é tão potente que passa uma mensagem subliminar de prisão. Há aqueles que afirmam que são ilesos a prisão, que são livre e não se “prendem” a nada, nem a ninguém. E, então com uma sabedoria freudiana confundem liberdade com inconseqüência.

Será que realmente estamos preparados para sermos livres? Será que suportaríamos criar as nossas regras sociais, e conseguiríamos manter o ideal de liberdade? Criar regras na sociedade já uma forma de acabar com a liberdade...

Talvez não precisemos ser livres, quiçá precisemos nos conhecer um pouco mais, conhecendo, sorvendo a vida em todos os âmbitos e profundidades, assim, poderemos ser livres pensadores, e finalmente poderíamos entender que o simples fato de questionar já nos deixa um pouco mais liberto... Eu continuo a buscar a minha liberdade, e você?

Apenas mais uma história de São João?

E a fogueira estava queimando, com ela se despedia cada pedacinho de sofrimento, e a luz da noite junina era enaltecida, era inebriante. Observava-se cada sorriso de casais apaixonados, de casais amantes. Ao som do mais autentico forró, a vida renascia reluzente.

A vida renascia sim, com aquele quê de otimismo, com o quê de sinceridade, a saudade não mais existia. Apenas sorrisos, olhares e movimentos coordenados embalavam os sinceros segredos abduzidos do fresco da alma.

Foi então que de repente, não mais que de repente, se avistou um olha. Olhar? Sim, olhar que já foi bem conhecido, olhar reconhecido seria a melhor forma de traduzi-lo. Olhar de um homem para com uma mulher, ou seria olhar de uma mulher para com um homem? Pouco poderia se entender, apenas o que se sabe era que o olhar era aquele mais arrepiante já observado.

Uns diziam que era olhar de raiva, outros diziam que era olhar de amor, mas, naquele instante pude perceber que se tratava de um simples olhar de aceitação misturado com um quê de ternura, e o por que não de saudade?

Os olhares eram incógnitos percebia-se que havia uma necessidade de entendimento, uma necessidade enorme de compreensão, uma enorme necessidade de se acabar com as ilusões e as discórdias.

Os fogos eram testemunhas, a sanfona calou-se, por um instante, diante de tamanha dúvida, todos se entreolhavam e questionavam onde estava o erro. E pouco a pouco, todos ratificavam que o erro não mais existia. Que os erros criados eram apenas uma forma de se defender da vida, dos sonhos e do passado.

Engraçado perceber que seres humanos teimem em se esconder da felicidade. Qual o problema em ser feliz? Qual o real problema em dividir? Existe algum problema em haver equilíbrio entre razão e emoção? Existe algum motivo?

E assim, os olhares foram entendendo o porquê das desavenças e foram compreendendo que sempre fizeram parte de um inteiro, foram percebendo que são exatamente iguais e por tal motivo se amam, se admiram e se temem mutuamente.

Os olhares finalmente se entenderam? Sanaram as arrebatadoras dúvidas da vaidade e do orgulho? A fogueira entre cinzas fora incapaz de responder tais questionamentos, mas, no coração de todos que presenciaram tamanha magnitude diante da vida, a esperança brota com a certeza de que cedo ou tarde, a verdadeira canção será impetuosamente administrada, sentida e nunca mais banida...

segunda-feira, junho 15

Desabafo

Acabo ler um pouco sobre a greve da maior universidade do nosso país, a USP, fiquei indignada como continuamos a andar para trás em nossas relações humanas e na nossa busca pelo poder e por subjugar o outro.

O fato me preocupa com o rumo que o nosso país está tomando, como os profissionais responsáveis pela educação, a riqueza de um país, simplesmente apóia uma briga que consiste em uma luta neandertal, onde foi parar a nossa teoria da evolução, de que adiantou tantos livros lidos, tantos temas debatidos, se ao se analisar de perto, todos nós somos rebaixados a meros seres que resolvem suas diferenças com armas, com luta e com violência?

Como ensinar aos jovens que o verdadeiro poder esta na habilidade de se relacionar com o ser humano, e na capacidade de questionar a vida, defendendo seus ideais, com racionalidade, inteligência e determinação?

Estou perplexa diante de tamanha violência, e fico apreensiva ao perceber que as pessoas ditas como intelectuais brasileiras estão sendo tão ou mais inconseqüentes que os nossos antepassados. Que as atitudes sejam revistas, que a inteligência seja enaltecida, e que o nosso país possa um dia se desenvolver junto com a luz do conhecimento e da paz!

quarta-feira, abril 8

Aos vinte e seis...

Há vinte e seis anos eu nasci. Num dia dezoito, de um janeiro qualquer, de um ano de oitenta e três. E pouco a pouco fui sentindo a delícia de viver. Mas, só com a chegada dos hilários vinte e seis anos foi que percebi a beleza pré-balzaquiana da vida.

Aos vinte e seis anos você começa a entender que beber uma simples cerveja gelada e testemunhar a beleza do sol nascer continua a ser uma delícia, mas está longe de ser sinônimo de liberdade. Você entende que ser livre é ter a capacidade de transformar-se e percebe que ainda não é tão livre assim... Mas, que em algum momento já sentiu o sabor peculiar da liberdade, da independência e da ousadia.

Aos vinte e seis, você entende que o prazer da vida está na apreciação... Na degustação de um bom vinho tinto com uva camenere ou pinot noir. No aroma peculiar de um perfum cabotine. Ou na apreciação de uma canção de Maria Bethânia, Chimaruts e Timbalada.

Aos vinte e seis anos você começa perceber que está entendendo demais de assuntos que apenas seus pais tinham conhecimento, e que por incrível que pareça tudo é tão interessante e natural. Você percebe que entender de vinhos, de livros, de bossa nova não é algo tão ruim assim.

Aos vinte e seis anos você percebe que pode ser uma pessoa refinada, desde que seu salário permita. É aos vinte seis anos que você começa a impulsionar a sua vida profissional. Mesmo fazendo uma besteirinha aqui, outra ali, você está convicta de que aos trinta e uns será uma profissional reconhecida e competente.

Aos vinte e seis, a sessão de cinema parece ter um significado além de risos e lágrimas. Os filmes começam a ser seus professores, principalmente quando você compara com o livro de Nietzsche ou Foucault que estão em sua cabeceira. Aos vinte seis você se torna mais critica, audaz e destemida, entretanto, ainda não tem aquela sonhada segurança dos trinta.

É aos vinte e seis anos que você entende que a paciência é a mãe da ansiedade, e que não adianta lutar contra o tempo, porque as situações simplesmente acontecem, os problemas se resolvem de uma maneira tão sutil que você termina por não perceber o tempo percorrido entre o sim e o não, pois, você abriga dentro de si a força de lutar por todos os seus ideais, de uma maneira mais sensata e eficaz.

Aos vinte e seis anos você ainda apresenta mais dúvidas do que certezas, entende que ser independente não é ser onipotente, entende que pedir ajuda não é um traço de fraqueza na sua personalidade, e sim apenas uma maneira de viver em sociedade.

Aos vinte e seis anos você já sabe que para mudar o mundo, precisa inicialmente ter a empreitada mais justa de tentar mudar a si mesmo.

É com a chegada dos vinte e seis anos que você entende que intimidade pode estar relacionada com amor, e que as ilusões surgem apenas para apimentar suas emoções. Você não se preocupa se o passado morreu, você até lamenta algumas historias não resolvidas, e tem a esperança sutil de que aos 30 anos a vida seja menos intransigente e muito mais atrapalhada

Aos vinte e seis anos você começa a se questionar se já amou alguém na vida... e percebe que tem um medo enorme de casar, mas sabe que o amor deve estar sempre ali, á espera de um plano futuro, para os trinta talvez.

Aos vinte e seis anos, você já não é a aquela menina ingênua, você já entende que a sensualidade é tão bela como a arte, entende que a arte da conquista é uma brincadeira saudável, e você sabe muito bem como usar seu charme, seus olhares e suas expressões corporais para se tornar irresistivelmente desejada.

Aos vinte e seis anos, você não mais confunde um corpo malhado com qualidades da personalidade, você entende que se relacionar com homens seguros é muito mais desafiador e irresistível. Você ratifica que a inteligência é fundamental, e pode até ser usada para ousar um pouco mais em relacionamentos futuros.

Aos vinte e seis anos, você simplesmente adora jogar conversa fora com os amigos, adora quando fala sobre assuntos que estimulem a sua capacidade de raciocínio e de questionamentos acerca da vida, de política, de medicina, de sexo, de sociedade.

Aos vinte e seis anos, você conhece mais de perto as conseqüências. E por essa razão simples, você entende que o futuro não é o melhor lugar para se depositar seus melhores dias. Nem os seus melhores sonhos...

sexta-feira, março 20

Erros humanos

É inacreditável o cenário em que o mundo esta desenhado hoje em dia... Ou melhor, mundo não, a humanidade... As pessoas estão cada vez mais industrializadas, rotuladas, mecanizadas, descrentes e amedrontadas.

Se observarmos bem de perto, apenas nos restará sonhar encontrar, by chance, em um supermercado, numa prateleira qualquer, um pacote de amizade industrializada ou de solidariedade rotulada. Será que como troco teríamos a honra de receber algumas moedas de entendimento e admiração pelas relações humanas?

Relações humanas? E elas existem? As pessoas estão gradativamente perdendo a sensibilidade, falar de amor está se tornando um crime inafiançável, vivenciar o amor então, é mais louca das loucuras. O lastimável é vislumbrar que o primeiro amor esquecido é o auto-amor, amor-próprio, como queira denominar...

As pessoas estão se abandonando, simplesmente, porque conviver consigo mesmo é uma experiência, no mínimo, tortuosa. É difícil olhar para uma imagem refletida no espelho e aceitar que logo ali, há um ser passível de erros. Erros efêmeros, erros eternos, erros racionais, erros emotivos, erros complexos, erros simplórios... Erros humanos.

Fugir do erro é tão ou mais fácil que fugir do acerto, acertar é muito mais burlesco, pois, acertando há impossibilidade de aprendizagem, impossibilidade de vivenciar novas experiências. Acertar significa que tudo está no seu devido lugar. Tudo correto, tudo mecânico, tudo regido por leis... leis? Imposta por alguém... Por quem? Por uma sociedade? E quem ensinou a regra à sociedade? E quem foi o ser precursor? Talvez seja aquele que nunca errou... Mas como ele poderia ter acertado?

Talvez a necessidade de acertar sempre exista para garantir a impossibilidade da solidão. E qual o problema em estar só? Estar só não significa estar solitário, tampouco está correto, estar só é tão significativo por nos fazer aperceber de que a auto-companhia é importante, suficiente, deliciosa, errada e correta, completa.

É através de momentos de auto-compahia que nos reconectamos com a nossa essência, são em pequenos instantes que conseguimos decodificar as nossas dúvidas e certezas, é quando conseguimos apenas ser... Quando começamos a entender a nossa relação com mundo, com os seres, com a humanidade. Estar acompanhado apenas pelo nosso âmago nos faz lapidar os nossos sentimentos mais íntimos, as nossas ambições e lamentações. Tornando-nos mais fortes e conscientes do nosso potencial.

Talvez você precise de um momento só, talvez você precise entender que os seus erros são importantes para o seu crescimento... Talvez você precise acertar; talvez você precise aprender e entender as relações humanas baseando-se exclusivamente na sua relação intrapessoal .Talvez você precise ser um mero espectador da vida... Ou, quem sabe, você precise apenas ser... HUMANO.



“Esquece todos os poemas que fizeste. Que cada poema seja o número um.”

sábado, março 14

Pequeninos olhos

Nunca imaginei que em um dia ensolarado um simples olhar pudesse me fazer refletir a despeito da vida, um olhar forte, ingênuo e sutil, o qual acompanhado por uma lágrima me suplicava socorro. Suplicava vida... Uma vida frágil a mim entregue que deveria por mim ser zelada...

Vida... Alguém já parou para imaginar o que é a vida? Estudiosos já mencionaram que a vida está entrelaçada ao tempo, e o mais jocoso é que o tempo para alguns pode ser eterno e para outros a eternidade é efêmera, é sutil, é triste...

Infelizmente, tempo era o que menos restava àquele olhar, e minhas dúvidas de médica em formação surgiram - Como dizer aqueles pequeninos olhos que o tempo para eles não duraria mais de que poucas horas? Naquele momento supliquei que todas as descobertas cientificas estivessem equivocadas, exigi que o mundo simplesmente ignorasse a lei natural da vida e olvidasse de levar aquela alma caridosa dos braços de sua mãe, que permitisse que o olhar suplicante por socorro fosse trocado por um sorriso de até logo, ou que a vida seguisse seu curso alegre como a mais burlesca das existências.

O sol como única testemunha de minha angustia observava por entre as janelas. Aqueles pequeninos olhos estavam gradativamente perdendo a força, a cada batida cardíaca, percebia o som silencioso, angustiante e impotente do adeus. Era notório, o coração frágil pertencente àqueles tênues olhos estava se preparando, pouco a pouco, para partir, seguir em direção a palcos celestes... E assim o fez.

O som estridente do adeus se fez a pior canção de amor já desenhada por dedos de artistas... Quanta saudade eu tive do belo som da bossa nova... Que saudade do sorriso daquela pequenina... Que pavor tive de mim... Quantos conflitos, como amar uma profissão que me deixa impotente diante de um olhar, de um socorro, de um sorriso... Como é difícil dizer adeus quando o coração que dizer até logo...

Meu coração silenciou, não mais podia escutar a música tão peculiar a ele, a alegria que está implícita na frase: eu estudo para salvar vidas... É difícil lutar contra a morte... É impraticável querer manipular a vida. Escutei por um momento, uma voz distante dizendo–me torna-te quem tu és... Acredito que por um instante esquecera o meu real propósito...

E a doce voz acrescentou - nunca esqueça: hoje você lutou a favor da vida, mas nunca contra a morte... olhei em minha volta e constatei que o meu inconsciente falara ao meu angustiado, inconformado e decepcionado coração, que, por um instante sentiu-se fracassado e impotente...

Olhei para a janela e percebi que o sol permanecera, ali, estático testemunhando a minha tristeza, percebi que o meu coração que tantas vezes olhara para dentro de si, fora capaz de chorar por um olhar forte, ingênuo, sutil, porém, desconhecido... Estranhei minhas limitações, me revoltei contra a vida por uns instantes, mas aprendi que é através das limitações que deve surgir a minha força, não para ser a cura, mas para ser um instrumento dela.

A campanhia tocou... A mãe dos pequeninos olhos me abraçou e com um tom de tristeza e conformação me disse: - muito obrigada, meu anjo se foi... Mas o seu olhar médico de ternura fez com que sua partida fosse amenizada com um sorriso leve...

Não contive as lágrimas, meu coração aos prantos incapaz de responder, apenas presenciou o meu maior fracasso diante da morte, e fez renascer uma nova vida em mim... Por um minuto pensei em desistir, e por toda eternidade vou esquecer esse minuto de fraqueza...

Com calma, arrumei minha maleta de idéias, abri a porta e sai com aquela certeza que parte de mim nunca mais seria como antes, aqueles olhos me fizeram enxergar a beleza da vida... Atravessei o corredor em direção a minha nova vida, que será repleta de tropeços, mas, que será dedicada para um ideal, o ideal do amor à vida e à medicina. Como é difícil perceber que se é humano...




"Quem disse que o preço dos sonhos é baixo? Aquele que tem um porquê de viver, quase sempre encontrará o como.” Nietzsche.