Acho que estou ficando velha, é
devo estar. Antigamente as pessoas eram mais livres. Tenho saudade desse
sentimento! A liberdade era tão natural, os relacionamentos eram de verdade,
tinha aquele quê de romance. O olhar no olho, o sentir com a voz. Tinha a
paquera, a conquista, a forma de querer bem que com uma inocência impar ia se
tornando quase cinematográfica. Adoro cinema.
De quando sou? Dos anos 80. 1983
meu ano de nascimento. Parece que nem faz tanto tempo assim, não é? Fui
criança, brinquei de boneca, subi no telhando, fiz trilha de bicicleta e joguei
muito vídeo game. Sonic era meu jogo favorito, lembro bem. Cresci ao som de É o
Tchan, que antes fora gera samba.
Na minha adolescência tive
paixonites agudas, entendi o que era ficar, namorar, beijar. Mas, ratifico, era
tudo diferente. Existia o frio na barriga ao avistar o menino mais bonito da
escola, que por vezes nem sabia que eu existia. E as paixões impossíveis? É! Definitivamente não pulei etapas. Vivenciei
cada idade com a intensidade que ela me permitia.
Ninguém mais lê o pequeno príncipe,
nem que seja por e-book. Hoje a inocência está sendo pautada com malicia. A
idade adulta chega cedo. Os sonhos estão tão consumistas e tão vazios. E há
quem diga que a minha geração, a geração Y melhor dizendo, já tinha sido
avançadinha em certos aspectos.
Pasmo ao ver crianças gravidas. Na
minha escola tinha meninas que engravidaram cedo também, mas hoje, não é o sexo
que está errado, e sim, a maneira como tudo está sendo conduzido. O desejo é
gritante, e, é muito bom desejar e se sentir desejado. Mas o importante mesmo é
ter todo o jogo de sedução peculiar a cada idade. Pulando etapas terminaremos
por burlar qualidade.
O toque. O descobrimento do toque
sem pudor, eis o mais importante. A magia de ir descobrindo o próprio corpo e o
do parceiro é mais gostoso quando feito lentamente. Aos poucos, quando
descobrimos também o que almejamos da vida. Quem somos...
Na adolescência parece que a vida
da gente vai acabar em um segundo e temos que viver tudo, com intensidade, e
rapidamente. Terminamos por perder o melhor do premio que é a forma de nos
conduzirmos até ele.
Hoje percebo que há uma enxurrada
de informações, todos são detentores de um saber ser que termina por gerar mais
confusão do que comunicação. Quem está nos ensinando que tão importante quanto
usar um preservativo é ter um elo interessante com o nosso parceiro? Alguém se
esqueceu de falar que para se ter um sexo prazeroso a ligação emocional é
fundamental. Com isso não estou querendo dizer que é necessário casar para poder
ter um relacionamento sexual saudável, porque iremos terminar por repetir o
erro dos nossos antepassados que ao se casarem rapidamente aniquilavam toda
forma de sentir prazer, por simplesmente se desconhecer... Quiçá conhecer o
outro.
Os distúrbios sexuais estão
lotando as salas de espera dos terapeutas. Porque tanto problema por algo que
faz tanto bem ao ser humano? É o que vivo me perguntando. Alguém já parou para perceber o parceiro
hoje? É importante cultivar a admiração, o jeito de falar, aquela forma
especial que ele tem de sorrir com olhos entreabertos. A maneira calma de caminhar.
A garra para lutar por seus ideais. O cuidar com a família. Já notou como
aquele defeito e a forma de brigar com você pelo seu atraso é um charme? E a inteligência?
Alguém discute Clarice Lispector melhor do que ele? Isso tudo sem falar no
gosto musical...
É isso que está faltando. Não
precisa mandar rosas. Não precisa comprar um carro novo após uma briga. O que
realmente encanta é a simplicidade. Um recado no mural do face book. Torpedos
para celular só para mandar um oi. Um abraço gostoso ao se encontrar. Tão
simples e tão eficaz.
É definitivamente estou
envelhecendo. Estou a cada dia me importando com coisas mais simples, esquecendo
certos valores monetários. Adorando a gentileza. A vida está me proporcionado
mais qualidade mesmo trabalhando e estudando por longas horas. A vida está
sorrindo para mim. Minhas relações? Ah, essas estão cada vez melhores...