sábado, julho 10

Relacionamentos... uma autoproposta?

Por ai há quem diga que os relacionamentos são o reflexo da personalidade do ser humano, dizem que quando somos bem nascidos, bem criados tendemos a reconstruir relacionamentos perfeitos por toda a nossa existência. O contraditório de tal afirmação é aceitar a possibilidade de perfeição. O que vem a ser perfeição?

Há quem acredite que perfeição é estar enquadrado nos ditames sociais, analisando-se a conjuntura atual da sociedade, um relacionamento perfeito é aquele em que um ser é o responsável por suprir a relação com afeto, atenção, carinho, enquanto o outro apenas se preocupa em mostrar a sociedade quão feliz eles são. Vejo que a possessividade caminha lado a lado com a perfeição, sempre escuto pessoas falarem meu marido, minha mulher, meu filho, meu homem. Como assim? Em que loja os seres humanos estão vendidos? E qual o preço? Qual o real valor de uma alma, de sonhos, de subjugamentos?

Sou essencialmente apaixonada pelo amor, no entanto, totalmente contra o amor fútil, superficial, o socialmente aceito atualmente. Criam dias de namorados, comercializam casamentos, e assim os contratos vão sendo assinados, as famílias vão se agregando, e fingindo serem perfeitos, apenas se suportam. Odeio a perfeição, ela apenas demonstra que nada precisa de mudanças, e como se vive sem mudar?

Percebo que vivo em movimento constante, nunca sou a mesma pessoa ao acordar, tudo que acontece a minha volta faz com que eu reflita, repense e decodifica minha personalidade. Como posso esperar que os relacionamentos sejam estáticos? Como esperar que aquele homem que se apaixonou por mim (ou por um espelho dele em mim) possa me olhar da mesma maneira, se eu constantemente mudo e ele também.

Como me contentar em estar inserida num mundo social estático, de valores superficiais... Odeio a superficialidade... Ela apenas massifica, e como já dizia o antigo clichê a unanimidade é burra. Não que eu tenha algo contra a burrice, apenas não sei ficar à espera fingindo viver.

Proponho uma reconfiguração de relacionamentos... Proponho a quem? A mim, a você, ao mundo. Reconfigurar relacionamentos não de forma libertina, não visando colecionamento de amantes, isso seria mais uma apologia a superficialidade... Proponho relacionamentos livres de amarras sociais, livre de preconceitos, livre de regras burlescas, infames e vis. Quem falou que eu realmente preciso lembrar todas as datas especiais ou convencionadas por alguém? Tenho que abdicar do dia em que eu escolhi para ser meu em prol de alguém apenas por obrigação? Quero ter o direito de estar em minha companhia e quero também entender que há dias que não há possibilidade de eu desfrutar a companhia de outrem. Porque esperar uma ocasião especial para dizer que se ama? E por que esperar que o amor que eu dedico a alguém seja igual ao que esse mesmo alguém deva dedicar a mim?

Quero ir de encontro a convenções que danificam relações. Quero ter o direito de falar, de silenciar, e de ouvir. Quero entender o que se passa no mundo das pessoas que estão a minha volta. Quero pessoas autênticas, que não precisem fazer exuberância para me impressionar. Quero simplicidade, realidade, verdade repleta de erros e acertos, por que não?

Porque há tanta necessidade em gritar ao mundo que estamos felizes? A felicidade real não precisa ser um troféu que me destaque dos outros, ela precisa ser sentida, entendida, apenas deleitada. Quero ter o direito de dizer um até logo. Quero ter o direito de viver apenas a minha vida, de ter segredos comigo, quero ter o direito de estar em lua de mel com minha essência. Talvez pareça até egoísmo tamanha proposta, mas como posso dar o melhor de mim numa relação se eu não tiver plena convicção do que o melhor de mim significa? Para que desperdiçar energia mostrando ao mundo que tenho uma relação perfeita? Não tenho tempo para isso! Não mais.

Prefiro vivenciar a liberdade do relacionamento. Quero ser lembrada por uma bobagem como um sorriso, quero ser procurada num momento de desespero, e quero até ser esquecida num momento enorme de felicidade para que assim a liberdade seja uma característica dos meus relacionamentos...

Quero ser amada por ser livre... Talvez você nem perceba o quanto eu sou feliz, talvez o mundo me critique por achar impossível amar de maneira tão livre e profunda, quem sabe alguém me compreenda... Decidi aceitar a autoproposta  e você?

6 comentários:

  1. Ahhhh, q gostoso de ler...
    sejamos nós mesmos sim com todos as positividades e/ou negatividades intrínsecas a cada um, mas q principalmente nós,e não "fulano,beltrano...", aceitemos o nosso EU em todas as suas formas...

    "A descoberta de algum modo o reconciliou com o fato de ela ser simplesmente ela própria, e não a depositaria de uma grande esperança". Pag:159
    A MAÇÃ NO ESCURO - CLARICE LISPECTOR

    Bjos no coração!!!

    Gracinha Pires

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  2. Esse comentário é que é gostoso de ler, adoro quando podemos parar e pensar em conjunto! Ai que saudade de discutir Clarice Lispector... parece que ela sabe exatamente qual é a delicia de ser exatamente o que somos nós!

    Bjão amiga! E Bem vinda... ao construindo castelos!

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  3. "A principal tarefa na vida de um homem é a de dar nascimento a si próprio" (Erich Fromm).
    Para constar... essa autoproposta, já está em prática, prima!
    Conhece 'A arte de amar'-Erich Fromm?!Leia... rss
    Bjaoooo

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  4. Hum, autoproposta em prática? que delícia... Engraçado como a ousadia ás vezes choca um pouco, prima. Há quem diga que esse texto foi um momento extremamente egoista meu, há quem simplesmente adore. Engraçado, não?! Só sei de um fato, fiquei extremamente feliz em saber que mesmo nao concordando comigo estou conseguindo fazer alguém pensar um pouco! Isso é fantastico, ouvir novos conceitos, idéias... Viva a diversidade! rs... E claro que vou ler, adoro suas dicas de livros!
    Bjãoooooooo!

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  5. Relacionamentos são sempre confusos, dificeis de entender, de predizer, dificeis de definir. Com o tempo passamos a decodificar algumas imagens psicologicas, e nos pegamos extremamente encantados por ela.Será egoismo,altruismo ou pura bobagem?

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  6. Talvez precise de uma pitada de cada, acho que o equilibrio é a resposta... para ser feliz precisamos de egoismo categoricamente chamado de amor próprio, de altruismo o amor por outro ser e a bobagem para muitos pode ser encarado como a simplicidade, ou a vontade de rir de si mesmo, sei lá... No fim a gente termina percebendo que tudo é necessario ou fundamental ?

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